quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

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Por que algumas pessoas são mais criativas que outras
Cérebros criativos têm ligações diferentes.
PorRoger BeatyTraduzido porMarina Schnoor
Jan 22 2018, 11:00am







 Margaret Vincent/Stocksy.
Matéria originalmente publicada no Tonic .


Criatividade geralmente é definida pela habilidade de ter ideias novas e úteis. Como a inteligência, ela pode ser considerada um traço que todo mundo — não só “gênios” criativos como Picasso ou Steve Jobs — possui. 

Não é só sua habilidade para fazer um desenho ou criar um produto. Todos nós precisamos pensar criativamente no cotidiano, seja bolando como fazer o jantar usando as sobras de ontem ou improvisando uma fantasia de Carnaval com as roupas que você já tem no armário. Criatividade varia do que os pesquisadores chamam de criatividade “c pequeno” — fazer sites, criar um presente de aniversário ou pensar numa piada engraçada — para criatividade “C Grande”: escrever um discurso, compor um poema ou bolar um experimento científico.

Pesquisadores de psicologia e neurociência começaram a identificar os processos de pensamento e regiões do cérebro envolvidas na criatividade. Evidências recentes sugerem que a criatividade envolve uma interação complexa entre pensamento espontâneo e controlado — a habilidade de fazer uma brainstorm de ideias e as avaliar deliberadamente para determinar qual pode realmente dar certo. 

Apesar desse progresso, a resposta para uma questão continua particularmente elusiva: O que torna algumas pessoas mais criativas que outras?

Num novo estudo, meus colegas e eu examinamos se a habilidade de pensamento criativo de uma pessoa pode ser explicada, em parte, por uma conexão entre três redes cerebrais. 

No estudo, 163 participantes completaram um teste clássico de “pensamento divergente” chamado tarefa dos usos alternativos, que pede que as pessoas pensem em usos novos e incomuns para objetos. Enquanto completavam o teste, as pessoas passavam por um eletroencefalograma, que media a atividade nas partes do cérebro. 

A tarefa acessa a habilidade das pessoas de divergir dos usos comuns de um objeto. Por exemplo, no estudo, mostramos aos participantes diferentes objetos na tela, como uma embalagem de chiclete ou uma meia, e pedimos que eles pensassem em jeitos criativos de usá-los. Algumas ideias eram mais criativas que outras. Para a meia, um participante sugeriu usá-la para aquecer os pés — um uso comum para uma meia — enquanto outro sugeriu usá-la como um sistema de filtragem de água.

Mais importante, descobrimos que as pessoas que se saíam melhor na tarefa também tendiam a relatar ter conquistas e hobbies mais criativos, o que é consistente com estudos anteriores mostrando que a tarefa mede a habilidade de pensamento criativo geral. 

Depois que os participantes completavam a tarefa de pensamento criativo no eletroencefalograma, medimos a conectividade funcional entre todas as regiões do cérebro — quanto uma atividade em uma região se correlacionava com atividade em outra. 

Também ranqueamos as ideias por originalidade: usos comuns receberam notas mais baixas (usar a meia para aquecer seu pé), enquanto usos mais incomuns recebiam notas mais altas (usar a meia como um sistema de filtragem). 

Aí correlacionamos as notas de criatividade de cada pessoas com todas as possíveis conexões do cérebro (aproximadamente 35 mil) e removemos as conexões que, segundo nossa análise, não se correlacionavam com as notas de criatividade. As conexões restantes constituíam uma rede “altamente criativa”, um conjunto de conexões altamente relevantes na geração de ideias originais. 


Duas renderizações mostrando os lobos cerebrais que se conectam em redes altamente criativas. Cortesia do autor.

Tendo definido a rede, queríamos ver se alguém com conexões fortes nessa rede altamente criativa tinha uma boa nota nas tarefas. Então medimos a força das conexões da pessoa nessa rede, e aí usamos modelagem preditiva para testar se poderíamos estimar a nota de criatividade de uma pessoa.

Os modelos revelaram uma correlação significativa entre notas de criatividade prevista e observada. Em outras palavras, podíamos estimar quão criativas as ideias de uma pessoa seriam baseadas na força das conexões dela nessa rede. 

Depois testamos se podíamos prever habilidade de pensamento criativo em três novas amostras de participantes cujos dados cerebrais não foram usados para construir o modelo de rede. Em todas as amostrar, descobrimos que conseguíamos prever — apesar de modestamente — a habilidade criativa de uma pessoa baseada na força das conexões nessa mesma rede. 

No geral, pessoas com conexões mais fortes tinham ideias melhores. 

Descobrimos que regiões do cérebro dentro da rede “altamente criativa” pertenciam a três sistemas cerebrais específicos: as redes padrão, saliente e executiva. 

A rede padrão é um conjunto de regiões cerebrais que se ativam quando a pessoa está envolvida em pensamento espontâneo, como deixar a mente vagar, sonhar acordado e imaginar. Essa rede pode ter um papel-chave na geração de ideias ou brainstorm — pensar em várias soluções possíveis para um problema. 

A rede de controle executivo é um conjunto de regiões que se ativam quando a pessoa precisa se focar ou controlar seus processos de pensamento. Essa rede pode ter um papel-chave em avaliação de ideias ou determinar se as ideias da brainstorm vão realmente funcionar, ou as modificar para se encaixarem no objetivo criativo.

A rede saliente é um conjunto de regiões que agem como um interruptor entre as redes padrão e executiva. Essa rede pode ter um papel-chave em alternar entre geração e avaliação de ideias. 

Uma característica interessante dessas três redes é que elas tipicamente não se ativam ao mesmo tempo. Por exemplo, quando a rede executiva é ativada, a rede padrão geralmente é desativada. Nossos resultados sugerem que pessoas criativas conseguem coativar mais redes cerebrais que geralmente trabalham separadas. 

Nossas descobertas indicam que o cérebro criativo tem “ligações” diferentes e que pessoas criativas são melhores em engajar sistemas cerebrais que tipicamente não trabalham juntos. Mais interessante, os resultados são consistentes com estudos de eletroencefalograma de artistas profissionais, incluindo músicos de jazz improvisando melodias, poetas escrevendo novos trechos de poemas e artistas plásticos rascunhando ideias para a capa de um livro

Mas pesquisa é necessária para determinar se essas redes são maleáveis ou relativamente fixas. Por exemplo, ter aulas de desenho leva a uma conectividade maior dentro dessas redes cerebrais? É possível aumentar a habilidade de pensamento criativo geral modificando a conexão dessas redes?

Por enquanto, essas questões continuam sem resposta. Como pesquisadores, precisamos engajar nossas próprias redes criativas para descobrir como respondê-las.
Roger Beaty é doutor em neurociência cognitiva da Universidade de Harvard. Esse artigo foi publicado originalmente no The Conversation . Leia a matéria original aqui .
https://www.vice.com/pt_br/article/ev59g7/pessoas-mais-criativas

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