sábado, 7 de dezembro de 2019

Secretaria de Finanças sem capacidade técnica ou humana para implementar novos procedimentos de arrecadação


A BAGUNÇA GENERALIZADA NA ARRECADAÇÃO DA PREFEITURA DE PARAUAPEBAS
Ou como o DAM sob responsabilidade do todo-poderoso SECRETARIO DE FINANÇAS inferniza a capacidade de geração de emprego e renda e desrespeita o bom senso e o ambiente de negócios em Parauapebas.







A OMISSÃO das ditas “autoridades do executivo e legislativo” estão criando um ambiente nocivo e altamente toxico para as empresas e contadores com a imposição de procedimentos e iniciativas que visa unicamente frear a implantação e funcionamento  do ambiente de negócios em Parauapebas.

Perdido num mar de normas e princípios absurdos e incoerentes o Sr. Anísio se mostra a cada dia mais perdido e pasmo ante a bagunça e desordem que sua incompetente e incapacitada equipe criou ou instituiu.

O que é pior, o prefeito ausente e parcialmente paralisado, sem poder real de comando e perdido ante tantas ações judiciais não consegue dar um norte a sua gestão, precisando urgentemente ir-se ou resolver quem manda na gestão agora.

Mas o pior mesmo é ver quinze patetas brincando de normalizadores, legisladores numa cidade que a cada dia se torna mais e mais terra de ninguém. Sem a atenção desses quinze culpados, sequer para ouvir quem lhes dá sustento, corre a solto a compreensão cada vez maior que é melhor se instalar nas vizinhas, as pequenas cidades que são mais eficientes e respeitosas como o público empreendedor.

Pobre Parauapebas, de homens “ricos e covardes” que lhe governa.

A quem recorrer, resta a pergunta angustiada de contadores, empresários, empreendedores. Não se tem ninguém quando orgulhosamente um funcionário público concursado e portanto já aposentado em plena juventude (abaixo a estabilidade do funcionário público!) lhe informa que seu processo de licenciamento levará de 90 a 180 dias, sorrindo. Temos um cliente que está esperando há 90 dias a liberação definitiva de sua atividade de processadora de alimentos...

Ficamos imaginando como o ASSAI conseguiu todas suas licenças tão rapidamente se a prefeitura local não tem pessoal suficiente para liberar uma pequeno restaurante popular...

E da forma como se estruturou os procedimentos de alvará agora, a única forma de agilizar processos será através de propinas. Porque todos sabem que de outra forma não será possível, não há pessoal, equipamentos ou senso de responsabilidade nesse pessoal que atende a abertura e legalização de empresas em Parauapebas.

A natimorta empresa digital que sequer merece maiúsculas, um delírio eletrônico covardemente largado e obrigado a sua utilização não funciona e elencamos as rações:
... Total incapacidade de compreensão e discernimento dos funcionários públicos alocados, total incompreensão das chefias políticas que passaram e deixaram tudo desarrumado, total incapacidade das secretarias – ah, as malditas secretarias de “ninguém”, de nenhum responsável a impor a quem quer investir até 90 dias para se entregar uma licença operacional para produzir alimentos, com a maldita SEMMA alegando não ter gente, não ter fiscal, ou a maldita VIGILÂNCIA SANITÁRIA com suas implicâncias e total incapacidade de gerir sua ata ou agenda, e agora  a maldita SEMURB que não dá conta de entregar sequer uma rua asfaltada, exigindo habite-se para uma empresa se instalar, sabendo que a cidade não passa de uma grande e mal ajeitada favela... e o maldito  DEPARTAMENTO DE TERRAS cujas respostas variam de 10 a 15 dias e por ai vai. E sobretudo o maldito DAM, da SECRETARIA DE FINANÇAS, tentando implantar o impossível, permitindo a produção apenas quando todas as secretarias emitirem sua respectiva autorização de ativação do alvará.

Uma prefeitura de uma cidade dinâmica freando a todo custo a iniciativa de empreendedores e a geração de emprego e renda.

O que faremos, a quem reclamar, quem nos ouve?

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Gestão e planejamento, porque Parauapebas não avança


COMO A PREFEITURA ATRASA O DESENVOLVIMENTO
DE PARAUAPEBAS
DAM - SEMA MUNICIPAL - VIGILANCIA SANITÁRIA - DEPARTAMENTO DE TERRAS – CORPO DE BOMBEIROS
Esses órgãos existem ou são meramente ficção?







Experimente empreender em Parauapebas. Experimente estabelecer-se como processadora de açaí, escritório de serviços, microempreendedor individual, marcenaria ou outra atividade que dependa do órgão controlador municipal. Você vai encontrar tantas portas fechadas e tamanha desorganização e falta de conhecimento básico no atendimento que, se não desistir, vai aguardar um tempo maior do que muitos negócios não dispõe.

É uma cidade de merda, um retrocesso do potencial do capital e da capacidade de empreender como elemento transformador de um aglomerado, seja vilarejo, vila, cidade, estado ou pais.

Me pergunto como os vereadores, muitos dos quais representando negócios em Parauapebas nada fazem e parecem nem perceber o quanto a própria prefeitura está travando e criando enormes e quase intransponíveis barreiras ao negócio e desenvolvimento da cidade.

Uma das piores iniciativas foi essa prefeitura fechar os empregos do SINE para si. Erro grasso porque se der liberdade para a iniciativa privada os custos serão menores e o desgaste inexistente. Ao tomar parte da execução de contratação de mão de obra a prefeitura assume um poder que desemboca sempre em corrupção e em seletividade – contrate os meus, o que é errado.

Estranhamente nessas férias todos os órgãos fecharam suas portas por mais de quinze dias. Todos os negócios que dependiam de atendimento público foram suspensos aguardando o fim das férias de verão dos funcionários da prefeitura. E numa cidade como Parauapebas, que luta para sair da dependência do minério de ferro...


VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Existe? Talvez para os pequenos, os ainda pobres sim. Falamos porque apartir do protocolo de qualquer iniciativa são pedidos de 10 a 15 dias para se iniciar o procedimento. Incrível não? Para duvidar basta irem ao Supermercado Mateus, açougue e sentir o fedor, o tremendo mau cheiro oriundo de carnes podres que ali recendem. Essa inoperância da vigilância sanitária permite a venda de hortigranjeiros que não cozinham, linguiça de porco feita com carne de vaca e corantes e toda porcaria que se quer vender na cidade. É uma lentidão impressionante e irresponsável para com a saúde da população, aumentando ainda mais a pressão sobre uma Secretaria de Saúde praticamente inexistente.

SEMA MUNICIPAL
Esse órgão é autoritário, não compreende as normas e tem as taxas mais abusivas e as piores exigências.  Deveria ser criado um setor de acompanhamento ambiental na câmara municipal ou algo que repense o modelo determinado por e para essa secretaria.

DAM
Esse é o órgão mais infernalmente burocrático e sem sentido da administração. Céus, quanta dificuldade, idas e vindas, detalhes inúteis, perda de tempo, de resultado, mentiras, ignorância perpetrados pelos estagiários ali alocados. Até parece a junta comercial local. O descaso municipal com as empresas que querem se legalizar demonstram o atraso geral de gestões e gestões que apenas se estabeleceram para criar dificuldades para os empreendedores locais. O gestor, Sr. Anizio esforça, quer coisas positivas mas não tem pessoal ou suporte.

CORPO DE BOMBEIROS
Sem as devidas competências para debelar um incêndio sequer, se torna o órgão com real poder de controle para a abertura de novos negócios. Sem pagar sua taxa arbitraria e ilegal, cujos calculo e valor para cada atividade é um mistério, sem quaisquer condições de real atendimento imparcial, obrigando as empresas a levarem tudo pronto, você não consegue ter uma licença em mãos. E isso tudo exclusivamente no tempo deles.

TERRAS
Não entendemos, como não pode ser parte do DAM esse órgão. As idas e vindas chegam a serem abusivas, lamentáveis.

Estamos há trinta anos estudando a cidade. Não adianta, não há crescimento, desenvolvimento, as cabeças são as mesmas. Ninguém percebe que o tremendo potencial da urbe está travado por homens de pouca visão.

Precisamos modernizar a legislação municipal, estudar os setores e estabelecer um projeto sério de automação fiscal e desenvolvimento. Deixar nossas convicções para trás, que apenas nos tornam menores. É uma merda uma cidade que precisa se desenvolver continuar a ser tratada assim, como um vilarejo pobre, distante. 

Não, somos a capital do minério de ferro e não ganhamos nada com isso!

Por onde andam os pensadores, os legisladores, os executivos? Na preocupação provinciana de grupelhos fechados e excludentes não conseguem olhar além. Ficamos na miséria das relações e das possibilidades.




quarta-feira, 10 de julho de 2019

ESTADO DE GUERRA CIVIL


Redução das taxas de homicídio no país passa pela restrição do acesso a armas de fogo, indicam novos estudos



EXCLUSIVAMIDIA: a camara de vereadores de Parauapebas teria algo a contribuir para ao menos desacelerar a violência urbana local?


Nelson Provazi



Entre 1990 e 2015 cerca de 2,5 milhões de pessoas morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas de fogo no Brasil, Colômbia, Estados Unidos e México. O dado é de estudo desenvolvido por instituições canadenses, publicado em maio na Lancet Public Health. O trabalho indica também que a mortalidade por armas de fogo é maior nos países em que seu acesso é facilitado. No intervalo de tempo pesquisado, a mortalidade por armas de fogo decresceu nos Estados Unidos – embora continue entre as mais altas do mundo – e na Colômbia e aumentou no México e no Brasil, que desde 2003 tem uma legislação restritiva em relação ao acesso, mas no qual ainda há um grande contingente de armas em circulação. Em 2017, os prejuízos causados no Brasil pela violência chegaram a R$ 373 bilhões, ou 6% do Produto Interno Bruto (PIB), revela o Atlas da Violência, recém-divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
“O Brasil é o país com a maior quantidade de assassinatos no mundo, em números absolutos. Só em 2017 foram 65,6 mil homicídios; 74,4% dessas mortes foram causadas por armas de fogo”, informa Bruno Paes Manso, cientista político e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), ao lembrar que o percentual médio correspondente na Europa é de 18%. Segundo a pesquisa “Mortalidade global por armas de fogo”, realizada pelo Institute for Health Metrics and Evaluation, com dados de 195 países em um intervalo de 16 anos, o Brasil lidera o ranking, somando 43,2 mil assassinatos por armas de fogo apenas em 2016. Em seguida estão os Estados Unidos, com 37,2 mil mortes.
São múltiplas as razões que permitem compreender a alta incidência de mortes por armas de fogo no Brasil. Uma delas envolve o acelerado processo de urbanização do país, entre as décadas de 1970 e 1980. O crescimento exponencial das cidades foi acompanhado por crises econômicas, pelo aumento da desigualdade e da criminalidade. “A partir da década de 1980, houve uma espécie de corrida armamentista”, observa o economista Daniel Cerqueira, do Ipea. “Naquela época, era possível adquirir armas em lojas de departamento”, recorda. Progressivamente aumentaram os homicídios por armas de fogo. Assim, se em 1980 esses assassinatos atingiram 6,1 mil pessoas no país, em 2000, somavam 30,8 mil mortes, conforme levantamento do Ipea feito com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.

 Preocupadas com a escalada da violência, diferentes unidades da federação, entre elas São Paulo, passaram a discutir medidas de restrição ao acesso a armas de fogo. Em 2003, foi aprovada a Lei Federal nº 10.826, conhecida como Estatuto do Desarmamento, para restringir o porte e regulamentar a posse de armas de fogo. Dados do Instituto Sou da Paz indicam que, entre 1997 e 2003, 926 mil armas de fogo foram comercializadas no país – uma média de 132 mil unidades ao ano. A partir de 2004, a média anual caiu para 53 mil unidades.

Desde então, a taxa média anual de crescimento de assassinatos por armas de fogo vem caindo no país. “Com o advento do estatuto, houve uma quebra de tendência na velocidade de crescimento das mortes por armas de fogo. Se nos 23 anos anteriores à lei esse avanço era de 8,1% ao ano, a partir de 2004 passou a ser de 2,2% anuais, até 2014”, relata Cerqueira, ao estimar em 133 mil as vidas preservadas. O economista não tem dúvidas a respeito do papel desempenhado pela legislação. “Se a quebra de tendência tivesse sido causada por fatores externos ao estatuto, como razões macroeconômicas ou demográficas, o país teria observado efeitos similares nos indicadores de violência letal perpetrada por outros meios, o que não ocorreu, mas apenas nas mortes causadas por arma de fogo e exatamente após 2003”, analisa. “Sem o estatuto, a taxa de homicídios no país entre 2003 e 2017 teria sido, no mínimo, 12% mais alta”, estima.
74% dos homicídios no brasil em 2017 foram causados por armas de fogo
Para identificar o caminho percorrido por armas legalmente comercializadas, o Instituto Sou da Paz rastreou, em sua mais recente pesquisa, realizada em Goiás, o itinerário de 8,9 mil unidades apreendidas pela polícia, entre junho de 2016 e dezembro de 2017. “Identificamos que 73% das armas haviam sido fabricadas antes da aprovação do estatuto, o que indica que o armamento da população, nas décadas de 1980 e 1990, segue causando impacto na violência do país até hoje”, argumenta Bruno Langeani, advogado do instituto. Também se constatou que pelo menos um terço das armas apreendidas no estado tinha registro legal, antes de elas serem desviadas para atividades criminosas. Em outro estudo realizado em São Paulo, pela mesma organização não governamental em parceria com o Ministério Público, foram analisadas 4,2 mil armas apreendidas em roubos e homicídios, em 2011 e 2012. “Pelo menos 38% delas tinham origem legal”, conta Langeani.
À constatação semelhante chegou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instituída em 2011 pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. De acordo com a CPI das Armas, em uma década foram extraviadas cerca de 18 mil armas, somente de empresas de segurança privada no estado. A CPI também realizou o rastreamento de armas utilizadas em crimes e assassinatos, identificando que 86% delas apresentavam origem legal e foram desviadas para fins criminosos. “Segundo dados do Sistema Nacional de Armas [Sinarm] do Ministério da Justiça, 22,9 mil armas de fogo foram perdidas ou extraviadas entre 2009 e 2011, e 29,3 mil foram furtadas ou roubadas”, informa Cerqueira, do Ipea. Os dados, enfatiza ele, são claros: “Quanto maior o número de armas de fogo em circulação, maior a migração de armamento para o mercado ilegal”. Langeani vai na mesma direção. “O fato de as apreensões feitas pela polícia envolverem principalmente armas de fabricação nacional, que são produzidas e vendidas legalmente no país, reforça a hipótese de que a maioria em circulação no mercado ilegal tinha registro legal e não entrou por meio de contrabando.”

  
Impacto no orçamento
A última edição do Atlas da Violência, do Ipea, mostra que o prejuízo de R$ 373 bilhões ocasionado em 2017 pela violência no país é composto de múltiplos gastos, que envolvem, dentre outros, o sistema prisional, a segurança pública e privada, e o Sistema Único de Saúde (SUS). No caso do SUS, somente as internações motivadas por ferimentos com armas de fogo custaram R$ 190 milhões aos cofres públicos, entre 2015 e 2018. “A saúde pública absorve os efeitos da violência armada, que acabam drenando recursos que poderiam ser utilizados à aquisição de novas tecnologias e medicamentos”, enfatiza o sociólogo José Ferdinando Ramos Ferreira, coordenador do Grupo Temático Violência e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Ele lembra que a vítima de arma de fogo, quando sobrevive, necessita de atendimento quase sempre complexo, com internação e sucessivos tratamentos e terapias que possibilitem sua recuperação física e mental. “Custos por ferimentos à bala são elevados porque muitas vezes exigem a realização de cirurgias e internações em terapia intensiva. Podem atingir múltiplos órgãos e demandar a colocação de prótese, por exemplo”, analisa o médico Danilo Blank, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Um dos pontos de atenção da SBP em relação à violência armada envolve o crescimento da letalidade entre a população jovem. “A principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude. Na faixa etária entre 15 e 25 anos, o crescimento da letalidade por armas de fogo é maior do que no resto da população”, relata o médico, referindo-se aos resultados do Mapa da Violência, estudo da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), de 2016. De acordo com essa pesquisa, nos últimos 30 anos o número de assassinatos por arma de fogo nessa parcela da população saltou de 3,1 mil para 25 mil, o que representa um crescimento de 700%. Na população geral o aumento foi de 600%. “No período em análise, os jovens brasileiros de 15 a 29 anos corresponderam a 60% de todos os mortos por armas de fogo”, lamenta Blank. Ao considerar o processo de transição demográfica pelo qual passa o Brasil, em que a população com mais de 60 anos deve chegar a 67 milhões até 2050, Blank revela preocupação com o impacto que as taxas de homicídio entre a população jovem podem ter na economia do país. “A transição demográfica e os percentuais elevados de mortes entre a faixa etária mais jovem afetarão a população economicamente ativa”, alerta.
De acordo com levantamento da SBP, baseado em dados do SIM do Ministério da Saúde, nas últimas duas décadas mais de 145 mil crianças e jovens de até 19 anos morreram em consequência de disparos de arma de fogo – acidentais ou intencionais, incluindo casos de suicídio. “Apenas em 2016, foram registradas mais de 9 mil mortes nessa faixa etária”, diz Blank. Nos últimos 20 anos, segundo o pesquisador, as internações de crianças e adolescentes resultantes de ferimentos provocados por disparos de armas de fogo custaram cerca de R$ 210 milhões aos cofres públicos. “Até os 14 anos de idade, os traumatismos no trânsito são a principal causa de morte”, observa. “Dos 15 aos 30 anos, são as mortes por armas de fogo.”
R$ 210 milhões foram gastos pelo SUS com internações de crianças e jovens feridos por armas nos últimos 20 anos
Ao evidenciar que nos últimos 25 anos disparos por armas de fogo constituíram causa persistente de mortalidade no Brasil, no México, na Colômbia e nos Estados Unidos, o estudo publicado pela Lancet Public Health, sob a coordenação de Anna J. Dare e Hyacinth Irving, pesquisadoras do Centre for Global Health Research da Dalla Lana School of Public Health, da Universidade de Toronto, Canadá, defende que a redução do acesso e circulação de armas de fogo deveria constituir a estratégia central dos quatro países para diminuir a ocorrência de homicídios. Para sustentar o argumento, o trabalho menciona, dentre outros, revisão bibliográfica publicada em 2016 na Epidemiologic Reviews, editada pela Oxford University Press, por pesquisadores das universidades Columbia, de Nova York, Nacional de Colômbia e de Boston. Nessa revisão, os autores voltaram a analisar os dados de 130 estudos científicos, realizados entre 1950 e 2014, com informações de 10 países, que examinaram associações entre leis relacionadas a armas de fogo e homicídios por armas de fogo, além de suicídios, lesões e mortes não intencionais. A partir dos resultados, o estudo coordenado por Dare e Irving indica a existência de relação direta entre a adoção de leis para a restrição do acesso a armas de fogo e a diminuição de mortes por essas armas. Além da associação entre o acesso e a incidência de mortes por armas de fogo, o artigo publicado na Lancet Public Health chama a atenção para a principal vítima desse tipo de violência: homens jovens, negros e com baixa escolaridade.
Na década de 1990, o economista norte-americano John Lott Junior, presidente do Crime Prevention Research Center, desenvolveu um estudo na Universidade de Chicago para analisar a relação entre leis favoráveis ao porte de armas e as estatísticas de criminalidade em cerca de 3 mil municípios, entre 1977 e 1992. Chegou à conclusão de que estados que adotaram leis favoráveis ao porte teriam conseguido reduzir os homicídios em 8,5%. “Para interpretar os dados identificados na pesquisa, o autor elaborou uma hipótese segundo a qual as pessoas não cometem crimes violentos quando sabem que as outras estão armadas”, explica Bruno Paes Manso, do NEV-USP, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela FAPESP.
Em 2017, pesquisadores da Universidade Stanford, também nos Estados Unidos, chegaram a resultados diferentes, utilizando metodologia que considerou os efeitos de múltiplos fatores, e não apenas a flexibilização do porte, na oscilação da criminalidade nos estados. Entre os fatores considerados estavam as taxas de encarceramento, de presença policial, índices de pobreza, desemprego, densidade populacional, renda per capita e consumo de álcool. “Nessa pesquisa recente, constatou-se que estados que não flexibilizaram as leis para porte e posse de armas, como Califórnia e Nova York, alcançaram reduções maiores nos índices de criminalidade”, conta Manso. Além disso, o estudo de Stanford revelou que nos estados que flexibilizaram o porte os crimes violentos subiram entre 13% e 15%.


O direito individual
Em junho, durante o lançamento da última edição do Atlas da Violência, Carlos von Doellinger, presidente do Ipea, argumentou a favor da posse de armas de fogo como direito individual, a ser exercido por cidadãos sem antecedentes criminais. “Há uma defesa do Estatuto do Desarmamento, porém, na minha posição pessoal, não estou falando como presidente do Ipea, acho que, por uma questão de princípio, me incomoda a impossibilidade de o cidadão ter uma arma em defesa da sua integridade física, do seu patrimônio, da sua propriedade e da sua família.”
Apesar de reconhecer a legitimidade dessa linha de argumentação, Cerqueira, também do Ipea, cita levantamento pioneiro, realizado em 1999 pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim), a partir de dados registrados em boletins de ocorrência. “Pelo histórico desses documentos, constatou-se que vítimas de assalto, quando armadas, apresentaram risco 56% a mais de serem mortas, se comparadas com vítimas desarmadas”, observa. A socióloga Jacqueline Sinhoretto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), uma das autoras do estudo citado por Cerqueira, enfatiza que, em situações em que a vítima estava armada, o número de mortes nas ocorrências policiais mostrou-se mais elevado, incluindo pessoas que transitavam pela cena do crime.
No estudo das instituições canadenses, publicado na Lancet Public Health, a posse aparece como um dos principais fatores de risco para mortes por disparos de armas de fogo. Em sua conclusão, os autores do estudo defendem que a criação de mecanismos legais para reduzir a exposição da população civil a armamentos é crucial para diminuir a incidência de homicídios por armas de fogo. Além disso, afirmam que o desenvolvimento de estratégias que permitam desconstruir a associação entre segurança e posse de armas deve acompanhar essas medidas.

Leis e armas
Regulamentação pelo Estado começou na década de 1930 e enfrenta hoje grande desafio
1934
Decreto Presidencial nº 24.602, assinado porGetúlio Vargas (1882-1954), regulamenta a fabricação e venda de armas de guerra pelo Estado e proíbe que a atividade seja desenvolvida por empresas privadas, que foram autorizadas a produzir exclusivamente armas destinadas à caça. A lei não trata do uso civil de armas e munição.
1965
Decreto nº 55.649 revoga a legislação de Vargase regulamenta a produção, o comércio e a circulação de armas e munições, que passama integrar o rol de produtos exportáveis do país.As polícias civis dos estados ficam encarregadasdo registro do porte e posse de armas.
1980
Portaria nº 1.261 do Ministério do Exército regulamenta a comercialização e o registro de armas de fogo. Maiores de 21 anos, sem antecedentes criminais e com profissão definida, adquirem o direito de comprar até três armas por ano, observado o limite total de seis unidades.
1997
Com a criação do Sistema Nacional de Armas,a fiscalização da compra e do uso de armas e munições torna-se responsabilidade exclusivada Polícia Federal, que passa a exigir comprovação de “efetiva necessidade” para autorizar sua posse. Enquadrado até então como contravençãopenal, o porte não permitido de arma de fogopassa a ser considerado crime. A responsabilidade pela fiscalização do armamento particular de policiais, juízes e colecionadores continua sendo das Forças Armadas.
2003
Promulgação da Lei Federal nº 10.826, conhecida como Estatuto do Desarmamento. O Exército torna-se o principal responsável pelo controle envolvendo fabricação, importação e registro de armas. Cabe à Polícia Federal autorizar a compra,o registro e a posse de armas pela população civil, que fica proibida de portar armas.
2019
Sucessivos decretos presidenciais flexibilizam regras de aquisição, cadastro, registro,porte e vendas de armas de fogo e munição do Estatuto do Desarmamento.
Fonte Instituto Sou da Paz
Artigos científicos
CERQUEIRA, D. et al. Atlas da violência 2019Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 116 pág. 2019.
DARE, A. J. et al. Geospatial, racial, and educational variation in firearm mortality in the USA, Mexico, Brazil, and Colombia, 1990–2015: a comparative analysis of vital statistics dataThe Lancet Public Health. v. 4, n. 6, p. E281-290. 1º jun. 2019.
DONOHUE, J. et al. Right‐to‐Carry Laws and Violent Crime: A Comprehensive Assessment Using Panel Data and a State‐Level Synthetic Control AnalysisJournal of Empirical Legal Studies. v. 16, n. 2, p. 198-247. abr. 2019.
LOTT, J. et al. Crime, Deterrence, and Right-to-Carry Concealed HandgunsThe Journal of Legal Studies. v. 26, n. 1, p. 1-68. jan. 1997.
NAGHAVI, M.  Global Mortality From Firearms, 1990-2016Journal of the American Medical Association. v. 320, n. 8, p. 792-814. 28 ago. 2018.
SANTAELLA-TENORIO, J. et al. What Do We Know About the Association Between Firearm Legislation and Firearm-Related Injuries? Epidemiologic Reviews. v. 38, n. 1. p.140-157. 1º jan. 2016.
WAISELFSZ, J.J. Mapa da violência 2016. Homicídios por armas de fogo no BrasilFlacso Brasil. 71 pág. 26 ago. 2015.