Tragédia 11/Nov/2015 às
16:47
Autoridades de Parauapebas, sociedade: parem de fingir que isto nao é conosco. Se no centro do Brasil isto aconteceu imaginem aqui, nestes fundões. Ha tragedia semelhante acontecendo neste momento entre nós: a construção da ferrovia por exemplo. Rasgando a cidade ao meio, cortando morros, explodindo nascentes, esgotando lagoas de água, destruindo referencias humanas e antropologicas, ignorando indigenas. E o pior, esgotando as aguas subterraneas de Parauapebas, ao insistir em manter uma mina de ferro gigantesca e cara, oeprando abaixo do nivel do mar. Ignorando completamente as desgraças, limitações e apoiando um grupo corrupto no poder, a VALE da as cartas do seu DNA. Uma predarora insensivel e apenas focada em gerar "valor" para seus sócios estrangeiros. Nao precisamos nos iludir, é para o exterior que vai tudo. Cabe a nós brasileiros o rejeito, a escoria, as lagoas de rejeitos, a destruição descontrolada da floresta, de comunidades indigenas e ribeirinhas, as sociedades incipientes que sua promessa de "qualidade de vida" faz surgir. Sem água Parauapebas esta agonizando ha anos e todos fingem nao perceber. Ha noticias de poços artesianos contaminados com cobre e até uranio aqui. Sem falar nas lagoas de rejeitos que estao ai, nas bordas das cidades, no seio da floresta. Capazes de causarem devastação ainda maior e sem controle, sem vigilancia. Será que merecemos tudo isto? Os vereadores, por iniciativa do Dr. Charles propuseram uma CPI DA VALE. Precisamos como sociedade e como cidadãos dessa investigação urgente e imparcial. Quero ter a esperança de que os vereadores nao cedam, nao se vendam e que busquemos as reparações urgentes e necessarios que a VALE nos deve. E das proteções que sua LICENÇA AMBIENTAL CONDICIONANTE a obriga cumprir e que nao sabemos quais são. QUEREMOS SABER de quem sao as LICENÇAS AMBIENTAIS que a permitiram construir esta ferrovia estupida dentro de Parauapebas, quem autoriza as explosões, com que autoridade esgota manaciais e compromete a fluidez do RIO PARAUAPEBAS ao explodir sua nascente para vender o minerio do S11D. Leia mais em arcadiapbs.blogspot.com
Por trás
da lama da Samarco afirma-se o gosto amargo de um jornalismo subserviente, a
serviço do mercado. Ignoram-se os conflitos, minimizam-se as contradições e se
assimilam os discursos cínicos. Primeiro enumeremos os donos: já se sabe que
50% da Samarco pertence à Vale. E a quem pertence à Vale? Esse capítulo, que
costuma ser omitido, merece uma atenção especial.
A lama da Samarco e o jornalismo que não dá nome aos bois (Pragmatismo
Político)
Alceu
Luís Castilho, Outras Palavras
Por trás da lama da Samarco afirma-se o gosto
amargo de um jornalismo subserviente, a serviço do mercado. Dezenas de pessoas
estão desaparecidas em Mariana (MG). Entre elas, crianças. O vídeo
abaixo mostra como era o cotidiano de um povoado destruído. Mas
a maior tragédia socioambiental brasileira do século XXI já começa a ser
soterrada pelos jornais, após uma cobertura protocolar. Da lama à ordem:
ignoram-se os conflitos, minimizam-se as contradições e se assimilam os
discursos cínicos de executivos e de membros do governo. Com a clássica
blindagem dos sócios da empresa.
Primeiro enumeremos os donos. Já se sabe que 50% da
Samarco pertence à Vale, a Vale que tirou o Rio Doce de seu nome e nele despejou lama
tóxica. A outra metade pertence à anglo-australiana BHP Billiton, uma fusão da
australiana Broken Hill Proprietary Company com a inglesa (radicada na África
do Sul) Billiton, atuante nas veias abertas do Chile, Colômbia e Peru (onde
tomou uma multa ambiental de US$ 77 mil após contaminação
por cobre), no Canadá, Reino Unido e nos Estados Unidos, na Argélia,
no Paquistão e em Trinidad & Tobago. Já protagonizou na Papua Nova Guiné
uma contaminação fluvial histórica. As maiores
mineradoras do mundo.
E a quem pertence à Vale? Esse capítulo costuma ser
omitido, quando se fala de impactos sociais e ambientais. A empresa é
controlada pela Valepar, com 53,9% do capital votante (1/3 do capital
total). Com 5,3% para o governo federal, 5,3% para o BNDESpar, 14,8% para
investidores brasileiros, 16,9% na Bovespa e 46,2% de investidores estrangeiros
(este percentual cai para 33,9% no caso do capital total). De qualquer forma já
temos que a Samarco – com a metade anglo-australiana e com esses investidores
estrangeiros da Vale – tem mais da metade de suas ações nas mãos de
estrangeiros.
E quem manda na Valepar, que controla a Vale? 1)
Fundos de investimentos administrados pela Previ, com 49% das ações; 2) A
Bradespar, do Bradesco, com 17,4%; 3) A multinacional Mitsui, um dos maiores
conglomerados japoneses, de bancos à petroquímica, com tentáculos na Sony,
Yamaha, Toyota, com 15%; 4) O BNDESpar, com 9,5. (Ignoremos os 0,03% da
Elétron, do Opportunity e seu onipresente Daniel Dantas. E registremos que, com
a Mitsui, aumenta ainda mias a participação de estrangeiros na Samarco.)
BNDES? Previ? Mas por que, então, a imprensa
acostumada a fustigar o governo federal não fiscaliza com mais atenção a Vale,
símbolo da privatização a preço de banana? Simplesmente porque não tem o
saudável hábito – a imprensa brasileira – de fiscalizar corporações. E porque
essas instituições não estão sozinhas. Porque tem a Mitsui, o Bradesco – o
bilionário Bradesco. Com um governador petista dando entrevista coletiva na sede da Samarco. (O capitalismo não é para
amadores.) Não há um acompanhamento sistemático do custo social e ambiental das
aventuras plutocratas, sob governos de siglas diversas. Pelo contrário: o que
há é um marketing despudorado.
EXECUTANDO
ADVÉRBIOS
Essa rede de donos da Samarco manifesta-se por meio
de um jovem executivo, Ricardo Vescovi. Os gerentes de crise da empresa tiraram
o site do ar (sabe-se lá com quais informações) e divulgaram esse vídeo do presidente no Facebook. Com seu
milagre de multiplicação de advérbios insossos e pronomes totalizantes,
insensíveis aos dramas dos mineiros. “Lamentavelmente”, “imediatamente”,
“absolutamente todos os esforços” em relação ao “ocorrido”, “todas as ações”,
“todos os esforços”, “igualmente não medindo esforços”, “todo apoio”, “toda
solidariedade”, “lamentamos profundamente” o “acontecido”.
Os mais desavisados poderão até ficar com dó do
pobre coitado. Ainda mais após as declarações do governo mineiro de que a Samarco foi “vítima” do rompimento da
barragem. E após jornalistas irresponsáveis replicarem notícias sobre “tremores
de terra” que acontecem todos os dias. Muito embora a empresa já soubesse,
desde 2013, que a barragem – como outras pelo país que ainda não desabaram
– estava condenada. E que essa não tenha sido a primeira tragédia em Minas
Gerais. São esses mesmos jornais que não se furtam a cobrir, de forma
reverente, o que as empresas chamam de “sustentabilidade”, “responsabilidade
social e ambiental”.
Alguém poderá argumentar que um jornal da grande
imprensa, o Estadão, divulgou notícia sobre o laudo de 2013 que mostrava
os problemas estruturais na barragem. Sim. Em 2015. Mas cabe lembrar que uma ou
outra notícia isolada após uma tragédia está longe de caracterizar a cobertura
crítica de um setor econômico. Se o tema não se mantém na manchete (passou
longe disso, neste domingo, nos principais jornais do país), em artigos
recorrentes, editoriais sistemáticos, não há o agendamento político efetivo – e
sim o convite ao esquecimento. E à impunidade. (Quem vai fazer uma Operação
Lava Lama?)
IMPRENSA DOS
VENCEDORES
Essa mesma imprensa se esquece também de contar ao
leitor que existe um choque entre modelos de apropriação do território e dos
recursos naturais. O vídeo da TV Cultura sobre a comunidade destruída mostra –
ainda que com uma abordagem que privilegia o exótico – um modo de vida bem
diferente, onde as moradoras vão na casa das outras, plantam-se pimentas no quintal
e se produz geleia, coletivamente, em uma associação. Uma lógica econômica
muito diversa da predação extrativista – e esgotável – protagonizada pela
Samarco, esse nome amorfo emprestado a dois expoentes do capitalismo mundial.
Quem disse que há consenso?
Existem movimentos sociais específicos de atingidos
pela mineração, ou atingidos pelas barragens. Até mesmo de atingidos
pela Vale. Por que não se dá voz a essas pessoas? Se nem após os
desastres isso acontece, o que se dirá do dia a dia? Porque os cadernos e
até revistas especializadas são de “negócios”, como se esses negócios pudessem
pairar (numa sociedade democrática) acima dos interesses dos cidadãos. Por que
os calam? Por que essa censura? Por que a destruição de uma comunidade inteira
e de um ecossistema não comovem? Porque esse jornalismo é situacionista,
economicamente situacionista. Torce para os vencedores.
Os mais eugenistas nem se constrangem em dizer que
aquelas populações não deviam estar ali – deviam abrir alas para a distinta
mineradora. Como se fosse um bem infinito para o país o esgotamento de seus
recursos minerais. Não se questiona o modelo e nem suas conexões com outros
temas: a falta d’água, o crescimento e a falta de infraestrutura das periferias
urbanas, inchadas também pela expulsão das populações tradicionais. Faz-se tudo
menos um jornalismo sistêmico, que consiga olhar para temas simultâneos, para
tendências econômicas e para o clima, para a desigualdade e os riscos ambientais.
Com nome aos bois (ou aos caranguejos), o nome dos beneficiários. Quem ganha
com isso?
NATURALIZAÇÃO
De um modo geral o efeito obtido no caso de Mariana
é o de naturalização de uma matança e de um crime ambiental histórico. Como não
houve chuvas, inventa-se um terremoto. A morte horrível de moradores e a
destruição de um povoado por uma empresa ganham, no máximo, uma cobertura
similar à das tragédias em São Luís do Paraitinga ou Petrópolis (fruto também
da especulação imobiliária), ignorando a cadeia de sócios, os interesses políticos em torno das mineradoras ou
o risco estrutural que esse tipo de exploração impõe ao ambiente, aos
trabalhadores e vizinhos, bola pra frente que em janeiro teremos “outras
enchentes”. Como se fizesse parte do sistema ser soterrado por uma lama tóxica enquanto se planta alface.
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